COMEMORAÇÃO DO DIA DO ÍNDIO, EM URUAÇU (SÃO GONÇALO DO AMARANTE/RN)

Hoje, dia 19 de abril - DIA DO ÍNDIO - protestos marcaram Brasília. Em um Brasil cujos líderes, em sua maioria, desprezam os povos indígenas (e alguns políticos profissionais ainda elaboram leis que prejudicam não somente os índios, mas os quilombolas), nossos parentes mais antigos se organizam para lembrar à população mundial que existem, resistem e também têm direitos a uma VIDA DIGNA.
 
Índios têm direito de viver sua espiritualidade, suas crenças (muito mais antigas nesta Terra que o Cristianismo trazido por europeus e o Candomblé oriundo da Mãe África). Têm direito de serem o que são e merecem todo o respeito. Índios não são inferiores a nenhum povo - muito pelo contrário, os não-índios deveriam aprender com os Potiguara, com os Tupinambá, com os Guarani, com os Xukuru, a amar a Terra e reverenciar a Natureza - coisa que os povos "civilizados" não fazem, como se fossem capazes de sobreviver algum dia sem oxigênio, sem água, sem árvores...
 
Hoje, embora eu não tenha podido ir comemorar o Dia do Índio com parentes da Aldeia Katu, da Aldeia Trabanda ou do Amarelão, muito menos tenha tido como protestar no dia que a partir de hoje pretendo chamar "DIA DA RESISTÊNCIA INDÍGENA", trabalhei com meus alunos da escola Joaquim Victor de Holanda (em Uruaçu, zona rural de São Gonçalo do Amarante) o tema "Espiritualidade Indígena". Conversamos um pouco sobre a importância dos pajés nas aldeias, sobre os povos Potiguara, Tarairiú e Kiriri, que ainda vivem no Rio Grande do Norte, sobre aspectos da fé dos Potiguara, etc.
 
Ao sair da escola, me surpreendi com um grupo de índios que se apresentava nas ruas de Uruaçu. Fiquei realmente surpreso e muito feliz em ver alguns de meus alunos participando da atividade comemorativa. Ora essa, nem tudo está perdido no país em que vivemos. A verdadeira cultura popular, embora agonizante, resiste incrivelmente ao tempo e à cultura de massas (essa maldita "bola de neve", rolo compressor composto pelos ridículos Grafites e funks do mundo, que alienam e escravizam as pessoas).



Em Uruaçu, jovens manifestavam-se com grandes e coloridos cocares, com saiotes Potiguara, arcos de flechar cobertos de plumas, lanças e facões de madeira. As meninas, portando lanças, remexiam os quadris, agitando os saiotes; enquantos os homens simulavam uma guerra. Arrodiando o manifesto, um pajé, portando um maracá, à guisa de Ka'apora - o Grande Espírito de cabelos e saiote longos, entidade protetora das matas e da caça pequena, há séculos temido e reverenciado por caçadores das zonas rurais do Rio Grande do Norte. Além desses, um caboclo alto portava uma grande concha que, soprada, emitia um ruido alto e médio-grave, anunciando a chegada do grupo. No fim da caminhada, seguindo os adultos, brincavam dois Kunumim - portando arcos e usando cocares. A esperança da continuidade de tão original manifestação.

Parabéns aos caboclos de Uruaçu. Parabéns aos membros e organizadores do grupo dos índios. Vocês, que carregam nas veias o sangue de potiguaras e Tapuias, jamais serão esquecidos. Que Deus lhes conceda muitas e muitas bênçãos.

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